terça-feira, 12 de maio de 2009

Viagem ao Centro da Terra - Júlio Verne



Em 31 de janeiro de 1863, um livro de formato pequeno começa a aparecer nas prateleiras das livrarias na França. Conta a história de três viajantes, liderados por um tal dr. Fergusson, que se aventuraram no coração da África viajando em um balão. Os valentes personagens da história enfrentaram tribos selvagens, animais ferozes e outros perigos.
Os leitores estão perplexos, intrigados. Será fato ou ficção? Parece um autêntico diário de bordo, que inclui descrições detalhadas dos fenômenos naturais presenciados e anotações sobre longitude e latitude à medida que os exploradores avançam em sua viagem, mas as aventuras parecem fantásticas!
No jornal parisiense Lê Figaro, um comentário na coluna literária diz: “A viagem do Dr. Fergusson é realidade ou não? Tudo o que se pode dizer é que é envolvente como o mais bem escrito dos romances e instrutivo como um livro didático de ciências.Nem mesmo os grandes descobrimentos da história do mundo foram tão bem narrados.”
O título desse incrível livro era Cinco Semanas num Balão, e o autor era um desconhecido chamado Júlio Verne.
Jules Gabriel Verne Allotte (seu nome de batismo) nasceu em 8 de fevereiro de 1828, em Nantes, no estuário de Líger, França. Era o primeiro dos cinco filhos de Pierre Verne, um próspero advogado, e Sophie (Allotte de la Fuÿe por nascimento), filha de uma família de militares. Seus irmãos eram Paul, Anne, Mathilde e Marie.
Criado numa cidade portuária, o garoto tímido vivia na marina e nas docas, observando o movimento do cais, o vaivém dos navios e das escunas, enquanto sua imaginação o transportava para portos longínquos, empoleirado no mastro de alguma embarcação.
Sempre que podia, Júlio alugava um barco e passava o dia navegando nas imediações do cais. Algumas vezes, Paul, o irmão um ano mais novo o acompanhava. Mas foi numa ocasião em que estava sozinho que Júlio se viu a deriva, a cerca de cinqüenta quilômetros da orla, enquanto uma das pranchas se soltou e o barco acabou afundando. Encurralado numa ilhota, ele foi forçado a esperar que a maré baixasse para atravessar o trecho até terra firme e voltar para casa. Outro caso conta que, aos onze anos, Júlio, apaixonado pelas histórias de países distantes, resolveu fugir de casa. Seu pai o teria conseguido pegar no porto de Poimboeuf, na primeira escala do navio. Pela fuga o menino recebeu uma inesquecível surra.
Em uma das primeiras biografias de Júlio Verne esse episódio seria romanceado, como uma tentativa do jovem Verne de viajar trabalhando de camareiro num navio mercante com destino às Índias, no qual teria chegado a embarcar clandestinamente. Teria sigo resgatado pelo pai no último instante, antes do navio zarpar. Não há evidências de que essas histórias sejam verdadeiras.
Júlio estudou em colégios católicos, e ao terminar o ensino secundário, em 1847, seu pai o enviou a Paris para estudar Direito. Nessa cidade Júlio passou a se interessar por teatro e escreveu uma peça, a comédia de um ato Lês Pailles Rompues, que seria publicada em 1850. Seu pai ficou indignado quando Júlio anunciou que não queria prosseguir com os estudos e parou de lhe mandar dinheiro. Júlio então foi forçado a vender suas histórias para se sustentar. Introduzido por seu tio Châteauborg nos círculos literários de Paris, Júlio Verne começou a publicar peças sob a influência de escritores famosos, como Victor Hugo e Alexandre Dumas (filho), a quem conheceria pessoalmente.
Em 1849 Charles Baudelaire traduzio os livros de Edgar Allan Poe para o francês. Júlio Verne tornou-se um dos mais devotados admiradores do autor americano, e em 1851 escreveu seu primeiro conto de ficção científica - Viagem num Balão, sob a influência de Poe.
Passou a trabalhar como secretário do Teatro Lírico de Paris em 1852, onde ficou por dois anos. Nesse período conheceu Honorine-Ane Hebe Freyson de Vianne de Morel, uma jovem viúva que tinha duas filhas, com a qual se casaria em 10 de janeiro de 1857. Ele vivia com a mulher e as enteadas numa espaçosa residência e ocasionalmente saía para velejar. Para sustentar a família, trabalhou durante algum tempo como corretor da Bolsa de Valores, já que sua carreira de escritor progredia lentamente. Em 3 de agosto de 1861 nasceu Michel, o único filho do casal.
Em 1862 Júlio Verne conheceu Pierre Jules Hetzel, escritor e editor de publicações infanto-juvenis, que começou a publicar a série Viagens Extraordinárias. Essa colaboração duraria até o fim da carreira de Verne.
Depois de passar horas e horas nas bibliotecas de Paris estudando geologia, engenharia e astronomia, Verne publicou, em 1863, o seu primeiro romance Cinco Semanas num Balão, que fazia parte da série Viagens Extraordinárias. O espetacular sucesso da obra, alcançado primeiramente na França e em seguida em vários países da Europa, rendeu-lhe um contrato de vinte anos com o editor Hetzel. Esse contrato seria alterado cinco vezes, sempre para incluir condições cada vez mais vantajosas para o escritor.
Com os ganhos de suas obras, Verne pôde deixar seu emprego na Bolsa e dedicar-se inteiramente à literatura.
Apesar de se entregar com afinco à atividade de escrever, Verne conseguiu concluir o curso de direito. Foi nessa época que ele começou a sofrer de problemas digestivos, que periodicamente recorreriam até o fim de sua vida.
As histórias de Júlio Verne logo ganharam enorme popularidade no mundo inteiro. Como não era cientista nem tinha uma vasta experiência em viagens, Verne pesquisava muito para escrever seus livros. Ao contrário de outras obras de literatura de ficção, ele procurava ser realista e prático na narrativa e na descrição dos detalhes.
Publica em 1864 Aventuras do Capitão Hatteras e Viagem ao Centro da Terra; Da Terra à Lua e Os Filhos do Capitão Grant em 1866; 20.000 Léguas Submarinas em 1870.

Em 1871 morre seu pai Pierre.

O clássico A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, história baseada em uma viagem real do americano George Francis Train, foi escrito em 1873. Na mesma época publica ainda A Ilha Misteriosa.
Na primeira parte de sua carreira Júlio Verne expressava otimismo com o progresso e o papel central da Europa no desenvolvimento social e tecnológico do mundo. Já nos romances seguintes, o pessimismo do autor em relação ao futuro da civilização humana refletia o clima de fatalidade de fim de século.
Escritor de imensa popularidade, Júlio Verne é considerado pai da ficção científica, ao lado de H. G. Wells. Embora Júlio Verne não tenha sido o primeiro escritor a descrever viagens à Lua ou aventuras no fundo do mar a bordo de um submarino, suas histórias foram as primeiras desse gênero que alcançaram projeção e popularidade internacional. Escritas tanto para adolescentes quanto para adultos, geralmente em forma de diários de bordo, elas levam o leitor a embarcar em aventuras, captam o espírito aventureiro do século XIX e o fascínio incondicional pelo progresso científico e pelas invenções tecnológicas.
Júlio Verne foi considerado um visionário, uma vez que muitas de suas idéias se profetizaram posteriormente nos avanços da ciência ao longo do tempo.
Durante mais de quarenta anos Júlio Verne publicou pelo menos um livro por ano, sobre uma ampla variedade de temas. Embora escrevesse sobre lugares exóticos, ele viajou relativamente pouco – seu único vôo de balão durou apenas 24 minutos.
Em 1872 mudou-se com a família para um palacete adquirido em Amiens, cidade em que nascera sua esposa.
Em um dia de março de 1886 Júlio Verne estava chegando em casa depois de passar a tarde no clube, quando ouviu o som de disparos. Em seguida sentiu uma dor aguda na perna esquerda. O tiro que o deixaria manco para o resto da sua vida fora disparado por seu próprio sobrinho Gaston – que tinha problemas mentais –, filho do irmão Paul. Uma vingança por Verne ter se recusado a lhe dar dinheiro para fazer uma viagem.
Desgostoso com a perda parcial da mobilidade, com a morte da mãe, ocorrida em 1887, e por outros motivos, sua outrora tranqüila felicidade ficou abalada. Em carta dirigida ao irmão em 1894, ele se queixaria: “Tornou-se insuportável para mim qualquer alegria, o meu caráter está profundamente alterado, e recebi golpes de que nunca conseguirei me recuperar.” Paul morreria em 1897, e a Júlio Verne, cada vez mais desolado, apenas restava confessar: “Quando não trabalho deixo de sentir-me viver”.
O último romance de Júlio Verne foi A Invasão do Mar, de 1905. Sua obra completa é composta por 65 romances, cerca de vinte contos e ensaios, trinta peças, alguns trabalhos geográficos e também libretos de ópera.
A antecipação científica baseada em feitos verídicos e as aventuras de personagens audazes e inteligentes foram a principal fonte dos romances de Verne, os mares e lugares inexplorados o cenário adequado para o desenrolar de suas histórias, que são uma rara combinação de inventividade e habilidade literária.
No fim da vida, com problemas de saúde, Verne já não podia ir à biblioteca, os livros eram levados até ele. Mas mantinha a rotina de escrever pela manhã e ler à tarde.
Na noite de 24 de março de 1905, em Amiens, Júlio Verne pediu um exemplar do livro 20.000 Léguas Submarinas. Perguntou pela mulher e pelos filhos, fechou os olhos e morreu, em conseqüência de complicações por diabetes. Foi sepultado no cemitério Madeleine em Amiens.
Após a morte de Verne, seu filho Michel concluiu e publicou algumas das obras inacabadas do pai.

Fonte: http://www.sociedadedigital.com.br/artigo.php?artigo=237. Acesso em: 02/05/2009

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