quarta-feira, 28 de março de 2012

Exercícios


O poema a seguir foi escrito por Mário de Andrade e lido pelo autor durante a Semana de Arte Moderna. Leia-o atentamente e responda às questões que se seguem:

Ode ao burguês

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!


Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os "Printemps" com as unhas!


Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!


Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
"— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar... — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!"



Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!


Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...

Vocabulário:
Ode: Gênero de poema lírico, composto por estrofes de versos com medida igual e tom alegre.
Tíburi: carro de duas rodas e dois assentos sem boleia, com capota, e conduzido por um só animal.


1- Uma das influências das vanguardas[1] europeias na escrita era a recriação de palavras, dando origem a novos sentidos, num processo semelhante ao da colagem, na pintura. Identifique , no poema , exemplos desse procedimento e explique o novo sentido adquirido pelo termo no contexto geral.

2-Por que a figura do burguês é escolhida para ser insultada no poema? Justifique.

3-Identifique o trocadilho e a ironia  presentes no título do poema de Mário de Andrade?

Lembre-se
Trocadilho: jogo de palavras que apresentam sons semelhantes ou iguais, mas que possuem significados diferentes.
Ironia: figura por meio da qual se diz o contrário do que se quer dar a entender;

4- Retire da 5ª estrofe do poema um verso que comprove o desejo dos modernistas por um modo de pensar renovado.






Gabarito
1- burguês-níquel, burguês-burguês, homem-nádegas, burguês-funesto, burguês-mensal, burguês-tíburi. O novo sentido é um insulto ao burguês a partir daquilo que ele valoriza: os bens matérias (níquel, tíburi) , ou a idéias antiquadas, conservadoras (nádegas, funesto, mensal)
2- o burguês representava uma ordem instituída, e o movimento de 22 buscava romper com essa ordem.
3- o poeta propõe o trocadilho entre Ode e ódio. Com isso ironiza a figura do burguês: em vez de dedicar ao burguês uma Ode, uma homenagem.
4- “sempiternamente as mesmices convencionais!”, ou seja, as convenções criticadas, pois há um desejo de renovação.



 Erro de português

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
Oswald de Andrade
1-A que fato se refere o texto?
2- As palavras português e pena têm dois significados no contexto. Quais?
3- Leia um trecho do registro de 23 de abril, da carta de Pero Vaz de Caminha:
[...] Na noite seguinte ventou tanto sueste, com chuvaceiros, que fez caçar as naus e especialmente a capitânia. [...]

A versão de Oswald de Andrade para esse fato sintetiza a linguagem da carta. Copie o verso que corresponde a esse trecho da carta.

4- O poema levanta uma hipótese: a inversão do fato histórico.

a) Que verso exprime a condição para que tal hipótese pudesse ser concretizada?

b) Que versos exprimem a inversão dos fatos?





Gabarito
1- ao descobrimento do Brasil
2- Português: a língua portuguesa e a pessoa de nacionalidade portuguesa. Pena: Revestimento das aves (referência a vestimenta indígena) e dó.
3- “Debaixo de uma bruta chuva”
4. a) Fosse uma manhã de sol b) O índio tinha despido /O português.


Leia o poema a seguir

Neologismo
Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
Manuel Bandeira

1) Neologismo é o processo pelo qual são criadas novas palavras. Qual é o neologismo do poema?

2) Qual a brincadeira sonora que esse neologismo propicia?
3) Por que, segundo o eu lírico, sua invenção seria “intransitiva”



Gabarito
1-      O verbo teadorar
2-      O trocadilho entre  teadorar/teadoro/ e o nome Teodora
3-      Porque não seria necessário escolher a quem adorar, apenas Teodora seria o alvo de sua adoração e ela não precisa retribuir o seu afeto.



 Porquinho-da-Índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas . . .
— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.
Manuel Bandeira

1- Aponte, no poema, dois aspectos de estilo que estejam relacionados ao tema da infância. Explique sucintamente.

2- Qual é o elemento comum entre a experiência infantil e a experiência mais adulta presentes no poema? Explique sucintamente.


Gabarito

1) Dois aspectos de estilo presentes no poema e que podem ser relacionados ao tema da infância são o uso reiterado do diminutivo (“bichinho”, “limpinhos”, “ternurinhas”) e o coloquialismo (Estilo de linguagem informal, familiar). O primeiro marca uma linguagem afetiva, muito comum na expressão verbal infantil; o segundo, revela uma linguagem livre de preocupações gramaticais, que poderia ser associada à maneira como as crianças se expressam, já que desconhecem, nesse período da vida, a maior parte das normas gramaticais. Outro recurso estilístico relacionado à representação de um universo infantil seria a livre associação de imagens aparentemente desconexas ou ilógicas, como a do porquinho-da-índia com a primeira namorada.


3) No poema, o elemento comum entre a experiência infantil e a adulta é o tema da frustração ou dor amorosa. A comparação apresentada no último verso sugere que a primeira namorada do eu lírico se comportou de modo semelhante ao porquinho, que “não fazia caso nenhum” “ternurinhas” dedicadas a ele.


[1] ideias e conceitos novos, avançados

11 comentários:

  1. Amei os exercícios era tudo o que eu queria. Muito obrigada!

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  2. Tbm gostei muito..obrigado!!!

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  3. Oi... também sou professora e adorei seu blog.Vou utilizá-lo sempre..Obrigada!

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  4. Que bom que gostou, espero que de alguma forma contribua... fique a vontade...

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  5. Glória a Deus por sua vida

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  6. O poema do português é um texto literário por que?

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  7. Eu amei esses exercícios, professora por favor comente o titulo da poesia de mário de andrade e a "brincadeira" sonora feita pelo o autor. ( Ode ao burguês)

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  8. Qual é o sentido dado a burguês-níquel”?

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  9. minha professora usa esse site kkkkkkkkkkk pqp só me interessa o gabarito

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